Perdido andei durante quase toda a vida."Jazia informe e exangue num cativeiro Há muito acomodado".Descobri-me e descobriram em mim algo que havia muito tempo a memória havia esquecido.Estou de novo pronto para o recomeço
segunda-feira, 22 de março de 2010
A máscara
Hoje vesti o meu reino de silêncio Mudei o tempo com suspiros e as estrelas por profetas
As minhas pedras viraram punhais de dores e as minhas mãos passaram a agulhas de gelo
Subi à torre do meu castelo e olhei as palavras das alturas
Dentro do meu copo de vento Sufoquei escadas de água Reprimi com muita dor o meu desejo e mordi o meu corpo com beijos adiados Marquei um lugar na minha cama e esperei em vão por um sonho sem destino Neguei o meu copo de vinho Mas comi a infância do meu pão
Roubei o meu tédio de ondas em desalinho e esfacelei os meus anseios transformando-os em insultos Agora sou um outro que ri dos deuses e dos anjos Apaguei demónios de horror e sigo a imagem do Herói que um dia dormiu em mim
Nasci num berço de palhas
Sem jumentos
Nem estrelas
Resultei dum coito de ideias tolas
E necessidades intempestivas
Melhor seria
Ter nascido morto
Num parto
Apadrinhado com ceroulas
Não posso
Dar um passo no passado
Sem tropeçar num qualquer
Osso esquelético
Quem foi
Aquela senhora visitadora
Que me trouxe
A esta vida
Desvairada?
Parteira desta vida
Sempre adiada
Como foi possível
Não dilacerar
Esta placenta
Que ainda trago
Agarrada a mim?
Fiquei tão só
Que dó me faz
Pensar num útero
Onde germinei
Num espaço
Incendiado?
Cansado
Corro neste antro
De feras humanas
Saudosos de não estarem mortos
O meu espaço
Foi crucificado
E não me traz
Novas da minha cova
2 comentários:
gostei do poema bem escrito como sempre e não é preciso usar máscara,deve-se ser como se é sem máscaras.
bjs
Este é um belo poema construído de fortes imagens.
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