terça-feira, 13 de abril de 2010

A campainha



Passa-me a campaínha por dentro
Toca a campaínha por fora
TRIM TRIM
O tempo agora é constante
Passa-me entretanto a correr
Por cada toque que ouvir
É um tempo descoberto
No tempo que sou agora

No tempo que já demora...

Fica-me o tempo
Por dentro
Passa a campaínha por fora

Tempo que é vento
Tempo que é medo
Tempo de solidão

TRIM TRIM
É ELA
Vai-se o tempo
Vai-se o medo

Fica a campaínha por fora

RESTA A VIDA
CÁ POR DENTRO

sábado, 27 de março de 2010

Cansa


Cansa tanto esperar
A carne viva
Partilhada
Não comprada
Não vendida

Cansa muito
Pisar o vazio
O éter
O asfalto
As pedras que não calcas

Cansa tanto
Esperar a tua pele
O teu olhar
O teu riso
O teu enigma

Ah quanto cansa
Ver o teu lugar
Na mesa vazio
O prato limpo
À espera
Ah quanto cansa
Acordar do meu sonho
Onírico
Vigilante
Mas SONHO

segunda-feira, 22 de março de 2010

A máscara


Hoje vesti o meu reino de silêncio
Mudei o tempo com suspiros
e as estrelas por profetas

As minhas pedras viraram
punhais de dores
e as minhas mãos
passaram a agulhas de gelo

Subi à torre do meu castelo
e olhei as palavras das alturas

Dentro do meu copo de vento
Sufoquei escadas de água
Reprimi com muita dor
o meu desejo
e mordi o meu corpo com beijos adiados
Marquei um lugar na minha cama
e esperei em vão por um sonho
sem destino
Neguei o meu copo de vinho
Mas comi a infância do meu pão

Roubei o meu tédio de ondas
em desalinho
e esfacelei os meus anseios
transformando-os em insultos
Agora sou um outro
que ri dos deuses e dos anjos
Apaguei demónios de horror
e sigo a imagem do Herói
que um dia dormiu em mim

sexta-feira, 19 de março de 2010

Agora


Agora
Quis-te
E vieste
Enfim
Escuto o silêncio
Dos teus passos

Acabaram
Os desalentos
Os cansaços
As longas esperas
As noites infindáveis

Agora o Mundo
Já não é Mundo
É um jardim
Já falo
Com as pedras do caminho
Converso
Com o rio
Olho o céu
Agora elé é mais azul
O sol
Mais doirado
As aves permanecem
Todo o ano

Conto-te
As minhas alegrias
A minha esperança
O meu sonho
Como criança
Numa manhã de Natal
A quem deram brinquedo novo

Tenho ilusões
Como ninguém
E espero
E desespero
P'lo teu olhar
Fico em êstase
Na noite dentro de mim
E vou guardar-te
Para sempre
Dentro de mim

terça-feira, 16 de março de 2010

O surdo mudo




Ele sómente olha
Não diz
Vê tudo
Mas não ouve
Fica com o sabor de boca ressequida

O silêncio é o Mundo ao seu redor
A sua solidão,não é uma invenção
É o amargo da sua dor

Tenta em vão agarrar a terra
para ser um corpo vivo
mas sufoca em pedras frias

Não tem portas
Nem estrelas
Não tem harpas nem tambores

Quer ouvir o poeta num jardim de amendoeiras
Mas o vazio é o frio do seu leito

Na seara do seu peito
nasce uma raiva de suspiros

E então repele o céu estrelado
Engole as palavras no seu mar sem fundo
Até ao tocar sua pele
ela lhe parece alheia

Fica a viver o resto
com a raíz do instinto
E o seu gelo é incapaz de aquecer aquilo que dói nele

Partem tão tristes os seus pés
Como quem carrega o peso das palavras

Vitor Correia

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Lágrima


Lágrima
Uma lágrima gelada
Percorre
meu rosto quente
Água
Sal
Carne
Mistura dolorosa
Brotou
Saíu
Para-me nos lábios

Um esgar
um leve toque de língua
Eis que me entra
Boca dentro

Dissolvo-a
Queixa-se

"Porque me soltaste?
Que mal fiz?
Dormia
Tão bem
no teu saco
Lacrimal

Respondo
Com um tríssilabo
" Não fui eu"
Questionou-me
Então? e Porquê?
Argumento
"é o estado de alma"

Já não falo
Já não sinto
Já não ouço

Apenas
Penso
Lembro
recordo

E que recordo?
São vagas
As lembranças


Havia
Um pão
Havia
Um copo
Solidariedade
Não faltava
Uma chama
furtiva
Duma vela
quase apagada
Espreitava
O AMOR
Envergonhada
Ora ardia
Ora apagava
Crepitava
Na lareira
Um resto
De madeira
Curcumida
Uma pinha

Chegou a hora
Partiu
Voltou a lágrima

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mulher


Bom dia ó mulher
Digo eu agora
És uma rosa branca
de espinhos amarrada
Rainha de aromas
e de beijos
Carregaste
no teu ventre
Uma linda madrugada
Um mar de chamas
e de abraços

És a amiga
A companheira
A razão
da minha força
A minha
dádiva de sangue

Mulher
Com lençóis de linho
Bordados na memória
viva do teu retrato

Constróis
A casa
O jardim
o livro ainda
adiado

Não te tenho
no meu lençol
Mas guardo em mim
A memória
do teu sorriso
Gravado
na sombra da minha alma

De que nevoeiro
Apareceste?
De que fonte
foste concebida
para que os sons
do meu sangue
fiquem calados?
De que forno?
Com que forja
fundiste o metal
Com que tão bem
pintas as cores
do teu arco-íris?

És mulher
És mãe
Dás a vida
A alegria

Aqui te deixo
O meu poema
A minha prosa
A minha gratidão
Por seres o que
e quem és

Amiga
Mãe
AMOR