quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Ainda não tive


Ainda não

Ainda não tive o meu lençol de carinho
A minha dívida de sangue
A memória viva do meu retrato

Ainda não tive
fogueiras de fome por saciar

Ainda não tive
O pai,a mãe, o amor sòzinho
O amor imenso

Ainda não tive
o amigo de espanto
A sandália de pinho
ou aloendro

Por issso me sinto
incendiado
E talvez não saiba perdoar
Nem pedir perdão

Por onde ainda
irei passar e não passei?
Pela réstea da sombra?
Pelo caminho do frio?
Pelo campo da fome?

Só sei que irei
com o coração vazio
que carrego nas entranhas
Por dentro desta raiva
deste grito
E deixarei no tempo
e no espaço
Esta mensagem de risos
e de choros

Vitor Correia

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Blogagem coletiva Setembro:O Vencedor

Dez da noite e espero em vão a minha hora de partida.A minha busca.A minha corrida louca.Eu e mais uns não sei quantos milhões de irmãos esperamos a nossa vez de mergulhar no escuro.Em busca dum outro gâmeta, mas feminino Hà dois dias atrás,houve também grande azáfama por estes lados,mas atrasei-me.Fiquei para aqui neste saco ,escondido.Vamos a ver se será hoje.Tenho fé.Passa algum tempo e quase adormeço,já desiludido com a espera por não poder trabalhar. De repente, Zás!! Aí está.O meu dono parece que se resolveu libertar-nos e fazer-nos correr.Há uma grande sofreguidão para escapar deste testículo enorme e correr por um tubo de nem sei quantos cms.Para aí vinte ou coisa asssim.Até nos libertar-nos.Sei que vai ser uma luta heróica para vencer todos os meus adversários e irmãos ao mesmo tempo. Mas paciência.Só um será o eleito.O VENCEDOR A temperatura aumenta de repente.Os movimentos aceleram. Bolas!!! Não empurrem.Grito para os meus vizinhos.Esperem que ele nos liberte.De repente ...Tumba.Aí está.Fomos todos sacudidos e empurrados para este tunel imenso que é o canal espermático Toca a correr A nadar.A dar ao rabiosque que se faz tarde.Já lá vamos Ena pá que velocidade .Saímos dum tubinho e estamos agora numa gruta escura e húmida.Mas sabemos bem o que fazer Toca a nadar.Vai de abanar a cauda.A cabeça sempre em força empurrando.Explorando à espera de ver uma luz ao fundo desta caverna.Olho para o lado,para a frente e para trás.Somos milhões,mas quero ser o primeiro.O único.Mais nada.Uns atrasam-se.Outros falecem.Não aguentam o afã da corrida. Passam algumas horas e já quando começo a esmorecer,que vejo???Está lá!!!É um óvulo!!!É aquele que me espera.Renovo a vontade.Restauro a força.Aí vou eu.Sacudindo a cauda.Olhos postos naquele pedaço que me espera.Vai Vencedor!!!Está quase. Chego lá.Estão mais de cem já a tentar a perfuração.Mas trago em mim a força dos meus antepassados .Vai agora .mais um esforço.Vrummm.Vrummm.Bolas que a crosta é rija.Estou quase em desespero.Está aqui um ao lado prestes a vencer-me.Não pode ser.Vai vai ...Yupi .Aí está .Cabeça penetrada.Agora és tu Ó gâmeta feminino.Leva-me para o teu seio.Fecha a porta e apaga as luzes.Ninguém mais nos vai incomodar. Exausto adormeço naquele meio delicioso que comigo vai fazer vida Ah ,valeu a pena...E adormeço. Passam horas,acordo e já não sou um espermatozóide.Juntamente com o óvulo que fecundei ,um embrião.Agora são mais 9 meses a trabalhar para dar alegria ao meu ex dono e à minha nova hospedeira Então até à maternidade Beijinhos do VENCEDOR

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Quem dera


QUEM DERA

Quem me dera retornar
Às manhãs de Sol e de ternura
Abrir a porta
de par em par e dizer-te:
Entra
Estou aqui
Este sou eu
Dou-te a minha vida
O meu corpo
O meu sonho
A minha alma posta a nú

Quem dera retomar
A mágica tarefa
do viver
Sentir a cratera do teu fogo
A chuva dos teus cabelos
Perdidos na minha almofada

Quem dera ouvir Beethoven
Nas tardes cinzentas
Frias
Mas em que a alegria
O riso
Viviam dentro de nós

Ah meu amor
Queria retornar
A olhar os véus
e o ondular do teu corpo
Na penumbra

Sou nostálgico
Eu sei
Mas meu amor
Serei sempre
Uma mísera migalha
da tua Primavera
À tua espera

Vitor Correia