Perdido andei durante quase toda a vida."Jazia informe e exangue num cativeiro Há muito acomodado".Descobri-me e descobriram em mim algo que havia muito tempo a memória havia esquecido.Estou de novo pronto para o recomeço
Passa-me a campaínha por dentro Toca a campaínha por fora TRIM TRIM O tempo agora é constante Passa-me entretanto a correr Por cada toque que ouvir É um tempo descoberto No tempo que sou agora
No tempo que já demora...
Fica-me o tempo Por dentro Passa a campaínha por fora
Tempo que é vento Tempo que é medo Tempo de solidão
Hoje vesti o meu reino de silêncio Mudei o tempo com suspiros e as estrelas por profetas
As minhas pedras viraram punhais de dores e as minhas mãos passaram a agulhas de gelo
Subi à torre do meu castelo e olhei as palavras das alturas
Dentro do meu copo de vento Sufoquei escadas de água Reprimi com muita dor o meu desejo e mordi o meu corpo com beijos adiados Marquei um lugar na minha cama e esperei em vão por um sonho sem destino Neguei o meu copo de vinho Mas comi a infância do meu pão
Roubei o meu tédio de ondas em desalinho e esfacelei os meus anseios transformando-os em insultos Agora sou um outro que ri dos deuses e dos anjos Apaguei demónios de horror e sigo a imagem do Herói que um dia dormiu em mim
Agora Quis-te E vieste Enfim Escuto o silêncio Dos teus passos
Acabaram Os desalentos Os cansaços As longas esperas As noites infindáveis
Agora o Mundo Já não é Mundo É um jardim Já falo Com as pedras do caminho Converso Com o rio Olho o céu Agora elé é mais azul O sol Mais doirado As aves permanecem Todo o ano
Conto-te As minhas alegrias A minha esperança O meu sonho Como criança Numa manhã de Natal A quem deram brinquedo novo
Tenho ilusões Como ninguém E espero E desespero P'lo teu olhar Fico em êstase Na noite dentro de mim E vou guardar-te Para sempre Dentro de mim
Lágrima Uma lágrima gelada Percorre meu rosto quente Água Sal Carne Mistura dolorosa Brotou Saíu Para-me nos lábios
Um esgar um leve toque de língua Eis que me entra Boca dentro
Dissolvo-a Queixa-se
"Porque me soltaste? Que mal fiz? Dormia Tão bem no teu saco Lacrimal
Respondo Com um tríssilabo " Não fui eu" Questionou-me Então? e Porquê? Argumento "é o estado de alma"
Já não falo Já não sinto Já não ouço
Apenas Penso Lembro recordo
E que recordo? São vagas As lembranças
Havia Um pão Havia Um copo Solidariedade Não faltava Uma chama furtiva Duma vela quase apagada Espreitava O AMOR Envergonhada Ora ardia Ora apagava Crepitava Na lareira Um resto De madeira Curcumida Uma pinha
Bom dia ó mulher Digo eu agora És uma rosa branca de espinhos amarrada Rainha de aromas e de beijos Carregaste no teu ventre Uma linda madrugada Um mar de chamas e de abraços
És a amiga A companheira A razão da minha força A minha dádiva de sangue
Mulher Com lençóis de linho Bordados na memória viva do teu retrato
Constróis A casa O jardim o livro ainda adiado
Não te tenho no meu lençol Mas guardo em mim A memória do teu sorriso Gravado na sombra da minha alma
De que nevoeiro Apareceste? De que fonte foste concebida para que os sons do meu sangue fiquem calados? De que forno? Com que forja fundiste o metal Com que tão bem pintas as cores do teu arco-íris?
És mulher És mãe Dás a vida A alegria
Aqui te deixo O meu poema A minha prosa A minha gratidão Por seres o que e quem és
Nasci num berço de palhas
Sem jumentos
Nem estrelas
Resultei dum coito de ideias tolas
E necessidades intempestivas
Melhor seria
Ter nascido morto
Num parto
Apadrinhado com ceroulas
Não posso
Dar um passo no passado
Sem tropeçar num qualquer
Osso esquelético
Quem foi
Aquela senhora visitadora
Que me trouxe
A esta vida
Desvairada?
Parteira desta vida
Sempre adiada
Como foi possível
Não dilacerar
Esta placenta
Que ainda trago
Agarrada a mim?
Fiquei tão só
Que dó me faz
Pensar num útero
Onde germinei
Num espaço
Incendiado?
Cansado
Corro neste antro
De feras humanas
Saudosos de não estarem mortos
O meu espaço
Foi crucificado
E não me traz
Novas da minha cova